Reza a lenda que seria num dia de nevoeiro que El Rey D. Sebastião regressaria. Na Luz, o milagre foi mais ao menos o mesmo, mas de proporções bem mais bíblicas. Pedro Mantorras, para quase todos acabado, regressou numa noite de tempestade e fez o que parecia impossível num campo de batalha encharcado como aquele: marcou o golo que colocou o Benfica no lugar onde merece, mesmo que à condição.
Mantorras é D. Sebastião! Eu diria mais: devido a tantos regressos, Mantorras é como Santana Lopes... mas em bom!
Quanto ao jogo em si, foi o que foi. Com um dilúvio daqueles era impossível fazer melhor. Chutão para a frente, fé em Nuno Gomes e num muito batalhador Cardozo (sim senhor, é assim mesmo!). A bola prendia de tal forma no meio-campo que era difícil, se não mesmo impossível, sair a jogar pelo lado dos bancos de suplentes. David Luiz na primeira parte e Maxi Pereira na segunda aperceberam-se bem da situação e sempre que possível recorriam ao chuveirinho. De resto, na primeira parte, destaque para a desinspiração de Di Maria, o que torna muito difícil construir ataques com princípio, meio e fim quando há apenas um extremo puro a jogar. Yebda também continua muito longe da forma que apresentava no início da época e Carlos Martins está, aos poucos a melhorar, tendo sido o elo de ligação entre a defesa e o ataque. Já Rúben Amorim continua incrível, certinho, não compromete e é, para mim, o jogador chave do meio-campo. No ataque Nuno Gomes esteve, como sempre, muito batalhador e Cardozo desta vez também, tendo muita infelicidade na finalização, enviando duas bolas ao poste.
Na segunda parte mais do mesmo, mas com o Rio Ave mais atento ao contra-ataque, devido a um jogo horrível de Yebda. O empate parecia perdurar até ao fim, até que aos 66 minutos, Quique decide pôr Pedro Mantorras em campo. E já está: primeiro toque na bola, primeiro golo. Digam lá se não é talismã. Ele pode estar em condições lastimáveis, e está mesmo, mas continua a ser aquele Mantorras com aquele instinto fatal. E o carinho que os benfiquistas têm por ele ficou demonstrado aquando da sua entrada para o aquecimento, aquando da entrada em campo e ainda quando marcou o golo da vitória. Como disse o Jorge Baptista hoje na SIC Notícias, é um stade cusy!
Até final foi aguentar a pressão do Rio Ave, a inclinação do campo promovida pelo árbitro e a entrada de Bynia. Ainda pensei que fosse para lesionar o Yebda, mas não. Vitória suada e merecida.
Resumindo, este será um jogo para figurar nos almanaques futuros do Benfica, pela carga emotiva que teve. Chorei duas vezes no Estádio da Luz: na despedida do Rui Costa e hoje, com o golo do Mantorras. Obrigado, Pedro.
P.S. Rui Costa (o árbitro) é sério candidato a Dragão de Ouro.